Desde o final de 2019, quatro aviões carregados de brasileiros deportados dos Estados Unidos já chegaram ao Brasil, o último deles na sexta-feira, 14 de fevereiro. Todos aterrisaram em Belo Horizonte pois a maioria dos detidos vem de cidades mineiras. Os brasileiros devolvidos ao país foram presos tentando entrar nos EUA irregularmente, cruzando a fronteira a partir do México.
A chegada desses aviões é uma cena triste que deve se tornar rotina, já que os governos dos dois países se alinharam sobre essa questão. Até a retomada de vôos desse tipo, o último havia acontecido em 2004. Parte da mídia brasileira vem se concentrando na forma como os detidos são tratados pelas autoridades americanas, sem dedicar qualquer atenção ao comportamento de quem tenta entrar ilegalmente em outro país. É um vitimismo descabido, pois quem decide se arriscar dessa forma sabe que está violando as leis do outro país, e fica pouco espaço para reclamações.
Muito mais importante é que a visibilidade para essas detenções e deportações contribua para provocar uma queda no número de brasileiros que buscam esse caminho. Em 2019, as prisões de brasileiros que tentaram entrar nos EUA dessa forma superou 18 mil, mais de 1000% superior ao total de 2018, de cerca de 1.600. Como existe uma parcela de brasileiros que consegue permanecer nos EUA entrando dessa forma, o número de tentativas é sempre superior ao de prisões e deportações.
Essa realidade reflete o que vem ocorrendo no Brasil nos últimos anos, com quase quatro anos de recessão, milhões de desempregados, cortes em todas as áreas e redução de oportunidades para praticamente todos os setores de atividade. Por outro lado, a vontade de tentar a vida em outro país não deve deixar de lado o raciocínio sobre as consequências de se tentar algo ilegal e, hoje, muito visado pelas autoridades americanas.
A era Donald Trump trouxe um endurecimento nas regras e uma perseguição contínua aos imigrantes ilegais já no país, com histórias tristes de deportação inclusive de pessoas com negócios estabelecidos nos EUA há anos se tornando rotineiras. A alternativa de se fazer tudo conforme as regras também traz poucos resultados, pois os processos de imigração para os países mais desejados pelos brasileiros se tornaram bem mais complicados e exigentes.
Existem países em busca de imigrantes, mas a peneira é muito fina. É uma demanda elitizada, que quer atrair pessoas com boa formação ou com dinheiro na mão para investir no novo país - estes últimos recebem os chamados vistos para empreendedores, se comprometendo a realizar investimentos que gerem empregos no novo país.
Fica claro, portanto, que imigrar corretamente será demorado, cansativo e com inúmeras exigências que variam de país para país, mas serão elevadas quando o objetivo for um dos países mais procurados por brasileiros. É algo que deve ser considerado e estudado profundamente antes de iniciar o processo correto, pois ele pode não levar a um bom resultado.
Ao mesmo tempo, com fiscalizações, dificuldades e a perseguição e deportação de ilegais crescendo nos países-alvo, é fundamental avaliar muito bem se é o caso de tentar algo assim. Pouco adiantam as histórias de brasileiros que tentaram há anos e, em muitos casos, hoje vivem nos EUA e outros países, ainda ilegais, mas sempre correndo o risco de ver suas vidas desmanchadas a qualquer momento.
Abaixo, matérias publicadas pelo jornal O Estado de Minas, sobre a chegada do último avião com brasileiros deportados, e pela BBC Brasil, com depoimentos de brasileiros que ficaram detidos nos EUA. Na manchete, a frase que um desses brasileiros afirma ter ouvido de uma autoridade americana: "Aqui não é sua casa"
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